10 alterações no tecido empresarial português na última década
A última década caracterizou-se por grandes alterações na conjuntura internacional, pelos seus reflexos na economia a nível interno, como o crescimento do desemprego, e ainda por medidas de apoio ao empreendedorismo, a maior facilidade na criação e encerramento de empresas, alterações fiscais ou o novo Código de Insolvências e Recuperação de Empresas.
Neste contexto, a InformaD&B identificou 10 alterações na dinâmica do tecido empresarial português:
1. Portugueses estão mais empreendedores
Os dois últimos anos (2015 e 2016) estão claramente acima da média anual de nascimentos de novas empresas na última década. O ano de 2016, com 37 034 novas empresas, e o de 2015, com 37.961, destacam-se nesta década, onde a média anual de nascimentos de empresas é inferior às 35 mil.
A evolução dos nascimentos entre 2007 e 2016 registou variações significativas. Em 2009 iniciou-se um ciclo de descida até 2012, com exceção do ano de 2011, ano em que ocorreu a alteração legislativa que reduziu o capital social mínimo para 1 euro por sócio.
Em 2013 o ciclo inverte-se, com as constituições a subir até 2015 e apenas com um ligeiro decréscimo em 2016.
2. Sectores ligados ao turismo ganham lugares na constituição de novas empresas
Há alterações a registar na estrutura sectorial dos nascimentos no tecido empresarial. Serviços e Retalho mantêm-se como os sectores onde se constituem mais empresas, mas o Alojamento e Restauração e as Atividades Imobiliárias, sectores ligados ao Turismo, deram um salto e ocupam agora os 3.º e 4.º lugares, respetivamente, por troca com a Construção e os Grossistas, que caíram para quinto e sexto lugar.
3. Agricultura, Pecuária, Pesca e Caça, Telecomunicações e Alojamento e Restauração são os sectores que mais crescem em nascimentos de empresas
Os empresários adaptam-se ao contexto e às oportunidades. Os sectores da Agricultura, Pecuária, Pesca e Caça (mais 9,5%), Telecomunicações (mais 6,9%) e Alojamento e Restauração (mais 4,9%) são os que apresentam na última década o maior crescimento do número de novas empresas (crescimento médio anual). Os Serviços e o Retalho mantêm-se como os sectores onde nascem mais empresas.
Construção e Gás, Eletricidade e Água são os dois sectores com o maior decréscimo anual de novas empresas (respetivamente menos 5,2% e menos 4,6%).
4. Há mais empreendedorismo individual e com menos capital
A iniciativa individual deu um enorme salto na última década e ganhou terreno face às sociedades por quotas em número de nascimentos de empresas. Em 2016, as sociedades unipessoais representam 49% das novas empresas, valor que compara com 36% em 2007. As sociedades por quotas representavam em 2007 59% das empresas que nasciam, recuando em 2016 para os 48%. Em números absolutos, criaram-se 11.739 sociedades unipessoais em 2007 e 16.954 em 2016; 19 478 sociedades por quotas em 2007 e 16 839 em 2016.
O crescimento da iniciativa individual teve como consequência a menor dimensão das empresas criadas, que têm agora um capital social de abertura mais reduzido. As empresas que são criadas com capital social inferior a 5 mil euros têm vindo a ganhar importância e em 2016 já representam mais de metade (51%) das constituições, com um capital social médio de 1 068 €.
5. Lisboa recupera liderança na criação de empresas
Em 2007, a região de Lisboa liderava os nascimentos de novas empresas com 33,8%, contra 32,6% da região Norte. A ordem inverteu-se em 2009, com o Norte a liderar todos os anos, até 2016, ano em que Lisboa recuperou a liderança (36,5% vs 32,9%). Em 2009, o Norte liderava com 10.531 novas empresas (Lisboa com 10.265); em 2016, Lisboa lidera com 13.533 (Norte com 11.182).
6. Processos de insolvência caem desde 2013
Após um pico de quase 6 mil novos casos em 2012, os processos de insolvência caem desde 2013, queda que voltou a acentuar-se em 2016 ( menos 23% de novos processos). Apesar da queda, os números de insolvências ainda não recuperaram para os valores de 2007 (pouco mais de 2 mil).
Em 2007, o distrito do Porto liderava em novos processos de insolvência, posição que passou a ser ocupada pelo distrito de Lisboa a partir de 2012. A década totaliza 40.309 casos de insolvência.
7. Retalho passa a liderar novos processos de insolvência
O sector do Retalho passou a liderar, no final de 2016, os novos processos de insolvência, lugar que há vários anos era ocupado pelas Indústrias Transformadoras, que recuou 15 pontos percentuais neste indicador desde 2007. Nesse ano, Indústrias Transformadoras e Construção representavam mais de 50% dos novos casos de insolvência; hoje, os novos casos estão mais distribuídos por todos os sectores.
8. Perfil regional dos encerramentos mudou
Entre 2007 e 2016 encerraram cerca de 163 mil empresas, com o número de encerramentos a manter-se perto dos 16 mil por ano. O ano de 2013 atingiu um pico nos encerramentos com 19.093 casos, enquanto os anos com valores mais baixos foram os de 2010 e 2014. Em 2016, o número de encerramentos situou-se abaixo da média da década. A idade média das empresas que encerram situa-se hoje nos 11,4 anos, uma subida ligeira face a 2007 (10,2 anos).
9. Empresas atrasam-se mais nos pagamentos
O comportamento de pagamento das empresas deteriorou-se na última década. A percentagem de empresas que cumpre o prazo de pagamentos acordado era de 21,7% em 2007, chegou a ser 25,3% em 2009, caiu até aos 16,5% em 2013 e, depois de recuperar para os 20,1% em 2015, voltou aos 17,4% em 2016.
10. Existem hoje mais de 60 mil entidades no sector social
Existem hoje mais de 60 mil entidades ativas no sector social, crescimento que foi impulsionado pelo forte nascimento de associações (mais de 21 mil na última década). No mesmo período, e além das associações, nasceram também 615 cooperativas e 224 fundações. O nascimento destas entidades teve um comportamento semelhante aos das empresas, com um decréscimo em 2016 após 3 anos de crescimento.
De acordo com Teresa Cardoso de Menezes, diretora-geral da Informa D&B, «as conclusões do estudo que realizámos sobre a última década mostram transformações significativas no tecido empresarial português que se refletem, entre outros indicadores, num maior empreendedorismo, na dimensão das novas empresas e no seu perfil regional e sectorial, com sectores a ganhar dinamismo por troca com outros».
Na década entre 2007 e 2016 nasceram cerca de 347 mil empresas e outras organizações em Portugal. Destas, 64% mantêm-se ativas. Das restantes, 21% encerraram, 13% estão inativas, 1% estão insolventes e 0,2% foram adquiridas; 1 803 são sucursais de empresas estrangeiras.
Fonte: HR Portugal